Congresso Nacional é um universo paralelo

 


Congresso Nacional é um universo paralelo

Em um país chamado Brasil, existe um lugar peculiar que muitos consideram uma nação à parte: o Congresso Nacional. Ali, dentro dos imponentes edifícios da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, parece que se desenrola uma realidade diferente daquela vivida pela maioria dos brasileiros. Um universo paralelo, onde a desconexão com o cotidiano do povo é tão profunda que chega a ser difícil acreditar que esses representantes foram eleitos justamente por aqueles que vivem no mundo real.

Imagine um país onde as prioridades são saúde, educação, segurança e emprego. Onde as pessoas acordam cedo, enfrentam o transporte público lotado, trabalham longas horas e, ainda assim, mal conseguem pagar suas contas no fim do mês. Enquanto isso, no Congresso, parece que a agenda segue um roteiro próprio, com interesses e preocupações que muitas vezes nada têm a ver com as angústias do cidadão comum.

É curioso pensar que esses parlamentares, que muitas vezes parecem viver em um "mundo imaginário", foram escolhidos por nós, eleitores. Como isso é possível? Será que, ao apertarmos o botão de confirmar na urna eletrônica, estamos inadvertidamente criando verdadeiros "monstros" políticos? Monstros que, uma vez eleitos, adentram o Olimpo da política e perdem completamente o senso de responsabilidade e de dever para com aqueles que os elegeram.

Dentro dos salões do Congresso, as discussões muitas vezes parecem girar em torno de questões que não fazem parte do dia a dia do brasileiro. Projetos de leis mirabolantes, comissões intermináveis, discursos vazios e, claro, a eterna busca pelo poder e pelo privilégio. É como se os mandatos fossem eternos, e os políticos, seres imortais, alheios às pressões e necessidades imediatas da sociedade.

Entretanto, é preciso lembrar que esses parlamentares não surgem do nada. Eles são fruto do nosso próprio sistema político e, de certa forma, refletem as escolhas que fazemos nas eleições. Somos nós que, talvez iludidos por promessas vazias, slogans impactantes ou simples desconhecimento, depositamos nosso voto de confiança em indivíduos que, uma vez eleitos, parecem esquecer de onde vieram.

É um paradoxo doloroso, mas real. O Congresso Nacional, esse país à parte, é um espelho distorcido de nossa própria sociedade. É um lembrete constante de que a democracia exige participação ativa, vigilância e, acima de tudo, responsabilidade. Não apenas por parte dos eleitos, mas também de nós, eleitores. Porque, no fim das contas, a política não deveria ser um universo paralelo, mas sim um reflexo fiel das aspirações e necessidades do povo que a sustenta.

Que possamos, então, despertar desse torpor cívico e exigir mais, cobrar mais, participar mais. Para que, um dia, possamos olhar para o Congresso Nacional e ver ali não um país à parte, mas sim uma extensão legítima e verdadeira do Brasil que queremos construir.

Gilberto Silva – Professor universitário aposentado, jornalista, escritor e pastor evangélico