“Agora Somos 13”

 

                          
                        “Agora Somos 13”            

No coração do Distrito de São Raimundo de Borralhos, zona rural de Santo Antônio do Tauá, situado na região do Guamá, no estado do Pará, escondida entre matas, rios e histórias que o tempo não apaga, existe um pedaço de céu chamado Vila dos Anjos. E lá, mora um anjo de carne, osso, alma e sorriso largo, a Vó Dina, como carinhosamente é chamada dona Adinair, a matriarca de uma família que carrega raízes mais profundas que qualquer árvore daquele lugar.

Aos 87 anos, ela é mais que uma testemunha viva da história. É protagonista. Nunca saiu dali, nem precisou. O mundo inteiro parece ter vindo até ela, embalado nas risadas dos filhos, no corre-corre dos netos e no carinho dos bisnetos. Uma mulher que carrega no olhar a sabedoria dos que aprenderam que a vida vale mais quando se mede pelo amor e não pelo tempo.

Tive o privilégio - e não uso essa palavra por acaso - de conhecer Vó Dina, compromisso firmado com seu neto distante, Marcos Vinicius, missionário no SETECEB, há quase quatro anos, na cidade de Anápolis. E conhecer Vó Dina não é só apertar a mão, ouvir um muito prazer e seguir adiante. Conhecer, nesse caso, foi se permitir ser tocado por uma simplicidade que não se encontra nas cidades grandes, nem nos livros, nem nas filosofias complicadas. Está ali, no gesto simples de quem acorda, agradece, trabalha, cuida e ama. E o que era uma breve visita, se transformou em um belo almoço, visita à casa de farinha no quintal, aos vizinhos, amigos e demais familiares residentes na vila. E claro, um verdadeiro banquete, preparado pelas mãos da mãe do Marcos, dona Edilena e da irmã, Carol.

Cheguei forasteiro, saí neto. Assim mesmo. Sem burocracia, sem formalidade, sem exigência. Bastou um olhar, um sorriso, um abraço apertado e uma frase que ficou marcada na memória: - "Eu tenho doze netos..."

— "Agora são treze, Vó Dina. Porque eu entrei na família.", disse eu, cheio de presunção.

Ela sorriu, me puxou para perto e, naquele instante, selamos uma aliança que nem o tempo, nem a distância, nem os quilômetros entre Tocantins e São Raimundo de Borralhos podem desfazer.

Viver essa experiência foi entender que a vida não precisa ser complicada. Que felicidade não mora nos shoppings, nos apartamentos ou nas redes sociais. Mora ali, na lida diária, no cheiro do mato, no som do rio correndo, na roda de conversa sob a sombra da mangueira, no café passado na hora, no pão feito na mão, no abraço que acolhe sem perguntar de onde você veio.

Saí de lá com uma certeza de que preciso voltar. Voltar não só para rever a vó, agora minha vó, mas para reencontrar aquele pedaço de mim que, por vezes, a vida moderna insiste em esconder. Aquele que sabe que as coisas simples são, na verdade, as mais valiosas.

Na despedida, depois de oração, entrega de pão diário e muitos abraços, carreguei comigo mais que lembranças. Levei o privilégio de ser adotado por uma família que entende que amor não se divide, multiplica. E se me perguntarem hoje quantos netos Vó Dina tem, responderei com o peito cheio:

— Treze. E eu sou um deles.

 

Pr. Gilberto Silva – Gurupi-TO