Introdução ao Capítulo 11 de Eclesiastes
O capítulo 11 de
Eclesiastes marca o início da conclusão do livro, onde o autor,
tradicionalmente identificado como Salomão, se volta para um conjunto de
conselhos práticos, cheios de sabedoria e espiritualidade, voltados à conduta
humana diante da vida e de Deus. Após longas reflexões sobre a vaidade das
coisas terrenas, as limitações da razão humana e a fugacidade da existência, o
Pregador assume um tom mais direto, convidando à ação prudente e à confiança
diante das incertezas.
A famosa expressão que
abre o capítulo: "Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de
muitos dias o acharás” (v.1), é rica em simbolismo. Refere-se à ideia de
semear generosidade, investir com fé, ou praticar o bem sem esperar retorno
imediato. Em um contexto antigo, onde os rios eram caminhos comerciais, lançar
o pão sobre as águas podia significar enviar mercadorias por mar, confiando em
um retorno futuro. Espiritualmente, isso fala de fé ativa, altruísmo
desinteressado e confiança no agir de Deus mesmo quando os resultados não são
visíveis no presente.
O autor prossegue incentivando
a repartir com generosidade: "reparte com sete e ainda com oito",
(v.2), reconhecendo que o futuro é incerto. A mensagem é clara. Não retenha o
bem por causa do medo do amanhã. Diante das incertezas da vida, como o vento
que sopra ou as nuvens que se formam (v.3-4), o Pregador adverte contra a
paralisia do perfeccionismo ou da análise excessiva: quem espera por condições
ideais nunca age. Aqui está um princípio valioso: agir mesmo diante da
incerteza é um ato de sabedoria e fé.
Outro ponto central do
capítulo é a limitação do conhecimento humano. O texto afirma que ninguém sabe
qual será o caminho do vento ou como se formam os ossos no ventre (v.5).
Trata-se de uma alusão à soberania divina sobre os mistérios da vida, e um
convite à humildade: nem tudo pode ser entendido ou previsto, mas ainda assim é
necessário agir, semear, trabalhar e confiar.
A metáfora da semeadura
(v.6) reforça a ideia de perseverança. Semeia de manhã, semeia à tarde, pois
não sabes qual das sementes prosperará, talvez ambas. Essa postura ativa, de
constância e esperança, contrasta com o fatalismo que às vezes permeia o livro.
Agora, Salomão se inclina para a sabedoria prática e espiritual: viva
plenamente, com fé, generosidade, diligência e confiança em Deus.
Ao final do capítulo
(v.7-10), inicia-se uma transição que prepara o leitor para o tema do capítulo
seguinte: a juventude e a memória do Criador. A luz é doce, a vida é preciosa,
mas também é breve. Por isso, o autor convida o jovem a alegrar-se e a viver
com responsabilidade, pois todas as obras humanas serão trazidas a juízo por
Deus.
Portanto, o capítulo 11 é
um apelo à vida com propósito e coragem. Em vez de se deixar dominar pelo medo
do incerto, o sábio se levanta, age, reparte, semeia e vive com alegria e
reverência. É uma convocação a usar bem o tempo, confiar na providência divina
e preparar-se espiritualmente para o que virá. A vida é um dom passageiro, mas
dentro dela existe a oportunidade de plantar sementes eternas.
Pr. Gilberto Silva – Gurupi
- TO
"Lança o teu pão
sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás." – Eclesiastes
11:1 - ARA
Este convite do sábio
Salomão transcende o simples ato de doar. Ele revela um princípio espiritual
profundo. A confiança na soberania e na fidelidade de Deus em meio à aparente
incerteza da vida. "Lançar o pão sobre as águas" é um gesto de
fé que desafia o imediatismo e a lógica humana. Nas águas, o pão parece perdido,
levado, disperso, sem controle, assim como nossos atos de bondade e justiça
podem parecer invisíveis ou infrutíferos.
Todavia, o apelo divino é
para que não nos deixemos paralisar pelo que não enxergamos. Deus chama-nos a
agir com desprendimento, porque "a colheita vem no tempo certo",
e Ele é fiel para cumprir suas promessas. Paulo exorta em Gálatas 6:9: "E
não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não
houvermos desfalecido". Essa é uma lição de perseverança, da fé
verdadeira não desiste diante do silêncio ou da demora.
Este versículo aponta
para a providência divina. Deus age na sua perfeição e no Seu tempo, e nossas
ações, mesmo aquelas invisíveis aos olhos humanos, nunca são em vão. Como diz o
salmista: "Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra e,
verdadeiramente, serás alimentado" - Salmo 37:3. A segurança não está
na imediata recompensa, mas na certeza da justiça divina e no caráter imutável
de Deus.
Além disso, a imagem do
pão lançada sobre as águas nos lembra da necessidade de generosidade que
transcende interesses próprios. Jesus ensinou: "Dai, e ser-vos-á dado"
em Lucas 6:38, ressaltando que o ato de dar é uma semente espiritual que pode
retornar de maneiras surpreendentes, não necessariamente no mesmo formato, mas
com abundância.
Assim, este texto nos desafia
a viver na tensão entre o agir e o esperar, entre o dar e o confiar. É um
convite para uma fé ativa que se mantém firme, mesmo quando os frutos demoram a
aparecer. É um chamado à esperança paciente, alicerçada na justiça e na bondade
de Deus.
Oração: “Senhor
soberano, ajuda-me a lançar o meu pão com fé genuína, confiando na tua
providência mesmo quando não vejo o retorno imediato. Que meu coração não se
canse de fazer o bem, pois sei que Tu és justo e fiel para recompensar cada ato
de amor e justiça. Ensina-me a viver na esperança paciente, agindo com
generosidade e confiando no Teu tempo perfeito. Que a minha vida seja
testemunho da Tua fidelidade, e que eu saiba esperar com paz, na certeza de que
tudo que faço em Teu nome produzirá fruto. Em nome de Jesus, amém.”
Na Graça do Pai. Bom dia.
Shalom. A Paz do Senhor. Que nessa quarta-feira, saibamos
semear com bondade, agindo com justiça e ajudando sem esperar nada em troca.
Assim estaremos sempre confiando em Deus como o recompensador de tudo.
Pr. Gilberto Silva –
Gurupi - TO