Era uma tarde qualquer, e Carlos,
como muitos outros brasileiros, buscava uma saída rápida para a sua realidade
apertada. O salário mínimo já não bastava para o básico, e a ideia de
multiplicar o pouco que tinha parecia sedutora demais para ser ignorada. Um
clique no celular, um cadastro rápido, e Carlos estava dentro de um mundo onde
promessas de riqueza fácil piscavam em telas coloridas.
No início, parecia mágico. Com R$ 50, ele ganhou R$ 200 em poucos minutos. O coração acelerou, o sorriso surgiu, e a sensação de controle o embalou. “Eu sou bom nisso”, pensou. Mas, como uma maré traiçoeira, o jogo virou. Vieram as perdas. Primeiro pequenas, depois devastadoras. O que antes era uma aposta ocasional tornou-se uma compulsão. Cada derrota exigia outra tentativa de recuperar o que havia sido perdido, e o buraco, invisível no começo, transformou-se em um abismo inescapável.
Carlos não estava sozinho.
Milhões seguiam o mesmo caminho, guiados por influenciadores que exibiam vidas
luxuosas patrocinadas por "parceiros" do setor de apostas. Os clubes
de futebol, antes símbolos de paixão e identidade coletiva, agora estamparam em
suas camisas o nome de empresas que lucram com a desesperança. Aquela vitória
no campo parecia menor quando, nas arquibancadas, milhares de torcedores
perdiam mais do que dinheiro. Perdiam a dignidade, a saúde mental e, muitas
vezes, a própria vida.
Estatísticas sombrias começaram a
aparecer. O número de pessoas endividadas disparou. Famílias desfeitas, vidas
ceifadas. Entre os mais afetados estavam os pobres, que, sem acesso à educação
financeira, acreditavam no mito da riqueza instantânea. Cada aposta era um
grito de socorro, um pedido de mudança que nunca viria.
E onde estavam as autoridades?
Aqueles que deveriam proteger o cidadão? Muitos estavam sentados ao lado dos
que lucravam com esse sistema, recebendo patrocínios, negociando
regulamentações que mais beneficiavam empresas do que protegiam os vulneráveis.
Carlos, como tantos outros, foi
engolido. As mensagens de cobrança começaram a chegar. O aluguel atrasado. A
geladeira vazia. O sorriso antes esperançoso deu lugar ao olhar perdido. E, num
dia de desespero, quando o silêncio parecia insuportável, ele pensou que o
único caminho era o fim.
Essa é a história de Carlos. Mas
também é a história de milhares, talvez milhões. Uma geração aprisionada pelo
brilho falso das telas e pela promessa vazia de que a sorte mudará suas vidas.
Enquanto isso, o jogo continua. O
dinheiro circula, os clubes prosperam, os influenciadores exibem viagens e carros
de luxo. Mas, por trás de tudo isso, há rostos apagados e vozes caladas.
Até quando a sociedade fechará os
olhos? Talvez seja hora de repensar o verdadeiro custo dessa aposta. Afinal,
quanto vale uma vida?
Pr. Gilberto Silva – Gurupi-TO