As apostas esportivas chegaram ao Brasil embaladas por promessas sedutoras. Salvar clubes em crise, gerar empregos e, quem sabe, transformar vidas com uma virada de sorte. Era o discurso perfeito para um país onde o sonho de uma vida melhor pulsa forte em cada esquina. No entanto, por trás das cores vibrantes dos aplicativos e do glamour dos influenciadores, há uma realidade sombria que cresce silenciosamente, consumindo vidas e sonhos.
O pobre e o assalariado, cansados de batalhar diariamente para fechar o mês, veem nessas plataformas uma oportunidade de alívio. Apostar R$ 10 hoje para ganhar R$ 1.000 amanhã soa como um plano muito bom para ser verdade. E é. Para cada raro caso de sucesso amplamente divulgado, há milhares de derrotas abafadas. Perdas que não são só financeiras. São também emocionais, familiares e, em casos extremos, fatais.
O aumento de suicídios relacionados a jogos eletrônicos e apostas online não é apenas uma estatística alarmante. É um grito de socorro de uma sociedade que normalizou o lucro à custa do desespero alheio. Quem se importa? As empresas seguem lucrando bilhões, patrocinando times de futebol e influenciadores, enquanto os jogadores – os verdadeiros apostadores – acumulam dívidas e vergonha.
E o Estado? O mesmo que deveria proteger os mais vulneráveis é, frequentemente, conivente ou cúmplice. As autoridades que poderiam regulamentar com seriedade ou mesmo combater os danos sociais dessa indústria, parecem estar sentadas à mesa do banquete, partilhando os lucros do sistema que destrói vidas.
As apostas já não são apenas um problema individual. Tornaram-se uma questão social. Crianças e adolescentes, expostos à glamorização das bets, crescem acreditando que o dinheiro fácil é uma realidade acessível. Famílias se desestruturam, escolas perdem jovens promissores, e o ciclo de pobreza e frustração se intensifica.
Sem uma regulamentação justa e eficaz, sem campanhas de conscientização e sem a responsabilização das empresas, que lucram com a vulnerabilidade alheia, o cenário só tende a piorar. O Brasil está apostando alto, mas não em favor de seu povo.
A pergunta que fica é até quando aceitaremos que o brilho falso de uma vitória fácil nos cegue para a destruição silenciosa que cresce ao nosso redor? Talvez seja hora de desligar a tela, olhar para a realidade e apostar, de verdade, no futuro das pessoas.
Porque, no final, o preço desse jogo é alto demais para se pagar com vidas.
Pr. Gilberto Silva - Gurupi-TO