Contraponto à música Lógica da Criação, de Oswaldo Montenegro
A letra é uma confissão poética e filosófica de perplexidade diante dos mistérios de Deus, da existência, da dor e da fé. Ela se move entre a indignação e a rendição, entre a razão que questiona e o coração que ama. Uma bela e inquieta oração moderna.
A canção lembra, em tom e
conteúdo, os clamores do personagem bíblico Jó, que também questionou a lógica
divina em meio ao sofrimento. Jó disse: “Falei do que não entendia, coisas
maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia.” (Jó 42:3)
Assim como Oswaldo na
canção, Jó começa acusando, perguntando, desconfiando, mas termina em
reverência. Ambos reconhecem, ainda que confusos, o amor de Deus.
O cantor se assemelha
também ao apóstolo Tomé, o que duvidou da ressurreição até tocar nas feridas de
Jesus. A canção quer "ver a outra vida", quer uma fé com provas, quer
que Deus explique suas equações. Tomé ouviu de Jesus: “Bem-aventurados os
que não viram e creram.” (João 20:29)
A canção vive esse dilema
entre crer sem ver e ver para crer. Entre o amor sem compreensão e a lógica sem
rendição.
Contraponto
poético - resposta em forma de poema
O mérito é Dele, sim
Mas os santos são como
espelhos
Que só refletem a luz
Do Cordeiro sem defeito
A vontade de Deus é um
rio
Mas nos deu remos,
escolha,
Até o Éden teve cerca
E uma árvore que nos olha
O sexo é paixão do barro
O prazer é dádiva pura
Mas feito vinho mal
guardado
Embriaga e vira censura
A morte é só uma porta
Fechada do nosso lado
Mas aberta do outro lado
Por um Deus crucificado
E se eu, tão imperfeito,
Sou parte dessa equação,
Só posso dizer com o peito
Não entendo, mas confio,
então.
A canção levanta perguntas legítimas, humanas, tocantes. Mas a fé, muitas vezes, responde com silêncio e abraço, não com fórmulas. Como disse o apóstolo Paulo: “Agora, vemos como em espelho, em enigma; mas então veremos face a face.” (1 Coríntios 13:12)
Pr. Gilberto Silva –
Gurupi-TO