Quando a Igreja teme o cliente e esquece o Senhor

 


            Quando a Igreja teme o cliente e esquece o Senhor

Vivemos tempos em que o púlpito, em muitas comunidades, tem sido moldado mais pela expectativa das multidões do que pela fidelidade à Palavra de Deus. Pastores, pressionados por um modelo de “igreja-empresa”, tornam-se reféns do desejo de agradar aos “clientes”, evitando confrontos e suavizando mensagens. Em vez de proclamadores da verdade, muitos têm assumido o papel de animadores espirituais, preocupados em manter a audiência satisfeita, mesmo que à custa da glória de Deus. Esse desvio do propósito original do ministério não é novo. Foi o drama vivido pelo profeta Jeremias, cuja fidelidade à Palavra lhe custou o conforto, a aceitação e até a liberdade. Sua história nos desafia a refletir: estamos dispostos a pagar o preço por sermos fiéis à verdade do evangelho?

Essa reflexão é profunda e urgente. A igreja contemporânea, em muitos contextos, tem cedido à tentação de transformar a comunidade de fé em um centro de satisfação pessoal, moldando sua mensagem ao gosto do público, como se os membros fossem "clientes" e o evangelho, um produto ajustável. Essa postura revela um triste descaminho: a substituição da glória de Deus pela aprovação humana.

O drama de Jeremias

Jeremias viveu esse conflito de maneira dolorosa. Chamado por Deus para proclamar uma mensagem de juízo e arrependimento, ele foi rejeitado, perseguido e desacreditado. Sua missão não era agradar, mas advertir, mesmo sabendo que isso o tornaria impopular. “Os profetas profetizam mentiras, os sacerdotes dominam pelas mãos deles; e o meu povo assim o deseja...” - Jeremias 5:31

Esse texto revela uma engrenagem de corrupção espiritual. Os líderes falavam o que o povo queria ouvir, e o povo gostava dessa falsa segurança. Não havia confrontação com o pecado, apenas afago e conveniência. Isso é chocantemente semelhante ao que vemos em muitos púlpitos hoje.

Jeremias, ao contrário, não negociou a Palavra de Deus. “Se eu disser: Não farei menção dele, nem falarei mais em seu nome, então há no meu coração como um fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado de o sofrer, e não posso.” - Jeremias 20:9. A Palavra queimava dentro dele. Mesmo desejando calar-se para evitar o sofrimento, ele não conseguia ignorar o chamado profético.

 A distorção do evangelho como produto

Essa mentalidade de “cliente” transforma o púlpito em palanque de autoajuda, e o evangelho em mercadoria motivacional. O apóstolo Paulo advertiu severamente contra isso, em 2 Timóteo 4:3-4: “Porque virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.

Paulo está dizendo que as pessoas desejarão mestres que digam o que elas querem ouvir, não o que precisam ouvir. E os pastores que cedem a essa demanda deixam de ser servos de Cristo para se tornarem servos da plateia.

A glória de Deus acima da glória dos homens

O verdadeiro ministério pastoral não busca agradar aos homens, mas ser fiel a Deus: “Porventura procuro eu agora o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se eu ainda estivesse agradando a homens, não seria servo de Cristo.” - Gálatas 1:10

É perigoso quando o culto se torna um “evento” e o púlpito, um “palco”. Quando o louvor visa emocionar, mas não edificar; quando a pregação é moldada para entreter, mas não confrontar. Isso não é culto. É um espetáculo vazio da glória de Deus.

Chamado à fidelidade

O drama de Jeremias é um alerta para os pastores de hoje. Ser fiel à Palavra pode custar caro, mas é o único caminho que honra a Deus. A igreja não precisa de agradadores, mas de profetas que falem a verdade em amor, mesmo quando ela for dura. “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados.” - Isaías 58:1

Quando a igreja deixa de ser coluna da verdade, conforme 1 Timóteo 3:15, para se tornar vitrine de vaidades, ela trai sua missão. O exemplo de Jeremias nos chama de volta à fidelidade. Que pastores, líderes e membros se recusem a diluir a verdade do evangelho para agradar aos ouvintes. Que busquem não o aplauso do povo, mas a aprovação do Senhor.

Pr. Gilberto Silva – Gurupi-TO