Entre os objetos mais simbólicos das Escrituras, o cajado ocupa um lugar especial. Ele não é apenas uma peça de madeira; carrega consigo histórias, marcas e significados que vão muito além de sua forma simples. O cajado representa liderança, unidade, experiência e compromisso. Nas mãos de um pastor, ele não apenas guia as ovelhas, mas testemunha sua jornada, seus desafios e, acima de tudo, sua fé.
Na Bíblia, o cajado aparece em momentos cruciais. Moisés ergueu seu cajado e viu o Mar Vermelho se abrir (Êxodo 14:16). Davi, antes de se tornar rei, usava um cajado para proteger seu rebanho e, mais tarde, escreveu: “A tua vara e o teu cajado me consolam” (Salmo 23:4). O cajado simboliza o amparo divino e a responsabilidade do líder espiritual em cuidar do povo de Deus.
Mas há algo especial na construção do cajado. Ele não é feito de uma única peça de madeira. É unido, fixado com firmeza, representando a unidade da Igreja. Assim como cada parte do cajado precisa estar bem pregada e colada para não se soltar, a Igreja precisa estar unida, fortalecida em Cristo, sem divisões. O apóstolo Paulo nos lembra: “Porque assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, formam um só corpo, assim é Cristo também” (1 Coríntios 12:12). A igreja é um corpo que precisa caminhar junto, sem rupturas, sem favoritismos.
Outro detalhe importante é a madeira do cajado. Algumas partes são mais claras, outras mais escuras, algumas de tom intermediário. Isso nos ensina que a Igreja não faz acepção de pessoas. Não há distinção entre ricos e pobres, entre aqueles que vestem roupas finas e os que usam vestes simples. O pastor verdadeiro não escolhe a quem amar, mas cuida de todas as ovelhas igualmente. Tiago adverte: “Se, portanto, entra na vossa reunião algum homem com anel de ouro e trajes finos, e entra também um pobre com vestes sujas, e dirigis olhar ao que traz trajes finos e dizeis: Assenta-te aqui em lugar de honra, e dizeis ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do estrado dos meus pés, não fizestes distinção dentro de vós mesmos?” (Tiago 2:2-4).
Além da cor, há outra característica dos cajados. Nenhum é exatamente igual ao outro. Mesmo que tenham sido riscados pelo mesmo lápis, cortados pela mesma máquina e moldados pelo mesmo artesão, cada um tem sua própria forma. Isso nos lembra que Deus nos fez únicos. Cada pastor tem um chamado específico, uma maneira particular de conduzir o rebanho. O ministério não é padronizado. Deus usa cada um conforme sua vontade (Efésios 4:11-12).
E há ainda as marcas no cajado. Poderiam ser lixadas até desaparecer, mas o artesão escolhe deixá-las. São cicatrizes intencionais, que contam histórias. São marcas que representam lutas, desafios, feridas que foram curadas. O pastor não pode liderar com feridas abertas, mas com marcas curadas. Ele foi sarado para sarar, curado para curar. Assim como Jesus, que não tem mais feridas, mas carrega as marcas da cruz (João 20:27).
Por fim, há algo que distingue o cajado de qualquer outra insígnia de liderança. A capa de um líder pode ser passada a outro, como ocorreu entre Elias e Eliseu (2 Reis 2:13). Mas o cajado não. Ele é pessoal. Ele pertence àquele que caminhou com ele, que o segurou em tempos difíceis e o usou para guiar. Quando um pastor completa sua jornada, seu cajado é guardado, pois sua missão foi cumprida.
O cajado é mais do que um pedaço de madeira. É um testemunho vivo do chamado de Deus, da unidade da Igreja, da diversidade de dons e das cicatrizes da jornada. Que possamos carregar as marcas de Cristo, andar em unidade e pastorear com amor, sabendo que cada marca deixada em nossa caminhada é um testemunho da fidelidade de Deus.
Pr. Gilberto Silva – Gurupi-TO

