Evangelho: liberdade para ser transformado
A religião, em sua lógica, opera
como uma troca: fazemos algo para agradar a divindade, na esperança de que ela
nos recompense com aquilo que desejamos. Essa ideia parece inofensiva, até
mesmo natural, mas é limitada e, acima de tudo, enganosa. O evangelho de
Cristo, por outro lado, não é um sistema de barganha, mas uma transformação
radical. Ele declara: “Tudo o que você precisa já lhe foi dado.”
Jesus não veio para fundar uma
religião. Ele veio para inaugurar um Reino - um novo mundo, redimido pela graça,
onde somos feitos novas criaturas. O apóstolo Paulo expressou isso com clareza
em 2 Coríntios 5:17: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”
Mas ao longo das eras, algo se
perdeu. O cristianismo, antes uma revolução espiritual, tornou-se, para muitos,
um sistema de regras. A religião invadiu o evangelho e inverteu sua lógica: não
mais “sou transformado por Deus, portanto vivo em santidade”, mas “cumpro
regras para parecer santo”. Essa inversão levou muitos cristãos a uma vida de
“pode” e “não pode”, em vez de “quero” e “não quero”.
É verdade, como Paulo escreveu em
1 Coríntios 10:23, que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm.”
O evangelho não se limita ao policiamento de comportamento. Ele é sobre
maturidade, liberdade e transformação. O Espírito Santo nos ensina a querer
aquilo que é bom, em vez de apenas evitar o que é mau.
O sincretismo religioso — a
mistura de tradições e culturas com o evangelho - frequentemente reforça essa
lógica distorcida. Ele faz com que muitas ações dos cristãos sejam motivadas
pela obrigação, e não pela transformação interior. Contudo, Deus não nos deu
uma religião; Ele nos deu um relacionamento. João 3:16 nos lembra: “Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Esse é o evangelho puro e
simples: amor e graça, não troca e recompensa.
No centro do evangelho está a
liberdade responsável. Em Cristo, somos livres para fazer escolhas, mas essa
liberdade não é uma desculpa para viver de qualquer forma. É uma oportunidade
para amadurecermos, para sermos moldados pela graça. Gálatas 5:13 declara:
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Porém, não useis a liberdade
para dar ocasião à carne, mas sede servos uns dos outros pelo amor.”
O evangelho nos convida a uma
vida onde obedecer a Deus não é um fardo, mas uma resposta de gratidão. Essa é
a transformação que só o Espírito Santo pode operar. É por isso que Jesus não
veio fundar o cristianismo, mas transformar a humanidade e trazer um Reino.
Talvez seja hora de relembrarmos
o fluxo correto do evangelho. Ele não diz: “Faça para receber”. Ele diz:
“Receba e seja transformado.” E, uma vez transformados, vivamos de forma que
nosso querer esteja alinhado com o querer de Deus. Não porque somos obrigados,
mas porque somos livres.
Pr. Gilberto Silva