Dia Internacional da Mulher – Entre conquistas e desafios contemporâneos


 Dia Internacional da Mulher – Entre conquistas e desafios contemporâneos

O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é um marco na luta histórica das mulheres por direitos e igualdade. No entanto, a persistência de altos índices de violência de gênero, especialmente o feminicídio, levanta questionamentos sobre a efetiva equidade entre homens e mulheres na sociedade contemporânea. O presente artigo tem como objetivo analisar o contexto histórico da data, os desafios enfrentados pelas mulheres no Brasil, com destaque para o estado do Tocantins, e as perspectivas para a construção de um futuro mais igualitário. Por meio de dados estatísticos e referências bibliográficas, discute-se a necessidade de políticas públicas eficazes e de uma mudança cultural estrutural para a erradicação da violência contra a mulher.

1. Introdução

O Dia Internacional da Mulher, celebrado anualmente em 8 de março, foi institucionalizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1977 como um reconhecimento da luta histórica das mulheres por direitos civis, políticos e sociais. Entretanto, a celebração da data contrasta com os alarmantes índices de violência de gênero, que persistem no Brasil e no mundo. O presente artigo busca problematizar a realidade da mulher na sociedade contemporânea, com ênfase no feminicídio e na violência de gênero, além de discutir a importância da implementação de políticas públicas para a mitigação desse fenômeno.

2. Contexto histórico do Dia Internacional da Mulher

A origem do Dia Internacional da Mulher remonta ao final do século XIX e início do século XX, período marcado pela luta por melhores condições de trabalho e direitos políticos femininos. Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada na Dinamarca, a ativista Clara Zetkin propôs a criação de um dia dedicado à luta das mulheres. Desde então, a data tornou-se um símbolo global da busca por igualdade.

No Brasil, a trajetória das mulheres na luta por direitos percorreu diferentes períodos históricos, desde a conquista do voto feminino em 1932 até a promulgação da Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340/2006) e a tipificação do feminicídio como crime hediondo em 2015 (Lei n.º 13.104/2015). No entanto, apesar dos avanços legislativos, os desafios ainda são enormes.

3. A violência contra a mulher no Brasil

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), o Brasil ocupa a 5ª posição mundial em mortes violentas de mulheres, evidenciando a gravidade da violência de gênero no país. Em 2023, foram registrados 1.400 feminicídios no Brasil, o maior número desde a tipificação do crime, representando um aumento de 1,6% em relação ao ano anterior.

Além disso, o país registrou 245.713 casos de violência doméstica contra a mulher, o que equivale a um caso a cada dois minutos. Estima-se que, a cada dia, quatro mulheres são vítimas de feminicídio, sendo que, na maioria dos casos, o agressor é um parceiro ou ex-parceiro da vítima. A violência psicológica e patrimonial também são formas recorrentes de agressão, reforçando a necessidade de um combate sistemático e preventivo.

4. Feminicídio no Tocantins e em Gurupi

O estado do Tocantins apresenta uma das maiores taxas de feminicídio do país. Em 2024, houve um crescimento alarmante de 150% nos casos de feminicídio, colocando o estado entre os que apresentam os maiores aumentos proporcionais. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Tocantins apontam que, em 2023, foram registrados 32 casos de feminicídio no estado, um número alarmante considerando a população local.

Em Gurupi, cidade localizada no sul do estado, os casos de feminicídio geraram forte comoção pública. Um dos casos mais recentes, ocorrido em novembro de 2024, teve como vítima Ana Paula Lima, assassinada a facadas pelo companheiro. O município registrou um aumento de 80% nos casos de violência doméstica nos últimos dois anos, evidenciando a necessidade de ações urgentes.

A resposta institucional tem sido lenta, mas há iniciativas locais de conscientização, como a instalação do "Banco Vermelho" no Parque Mutuca, um símbolo da luta contra o feminicídio, promovido pela Prefeitura de Gurupi em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins. Além disso, ações educativas e campanhas de denúncia têm sido intensificadas para conscientizar a população sobre os direitos das mulheres e os canais de denúncia disponíveis.

5. Outras desigualdades e desafios das mulheres na sociedade

Além da violência de gênero, as mulheres enfrentam desafios estruturais em diversas áreas:

Mercado de Trabalho: Mulheres recebem, em média, 22% a menos que os homens no Brasil. Além disso, a ascensão a cargos de liderança ainda é um desafio.

Participação Política: Apesar de representarem mais da metade da população, as mulheres ocupam apenas 17,7% dos cargos no Congresso Nacional.

Saúde Mental: A sobrecarga emocional e a violência psicológica impactam diretamente a saúde mental das mulheres, aumentando índices de ansiedade e depressão.

6. Desafios e perspectivas para a igualdade de gênero

O combate à violência contra a mulher requer ações integradas entre o poder público, sociedade civil e instituições privadas. Medidas como o fortalecimento de delegacias especializadas, campanhas educativas e programas de apoio às vítimas são essenciais para enfrentar essa realidade. Além disso, é imprescindível a promoção da igualdade de gênero desde a educação básica, buscando desconstruir estereótipos e padrões machistas enraizados na sociedade.

A implementação de políticas públicas eficazes deve incluir investimentos em casas abrigo, linhas de atendimento emergencial e a ampliação de redes de apoio psicológico e jurídico para vítimas de violência. A criação de centros de reabilitação para agressores também tem se mostrado uma estratégia eficaz na redução da reincidência de casos de violência doméstica.

A sociedade também tem papel fundamental na denúncia de casos de violência e na promoção de um ambiente seguro para as mulheres. O fortalecimento da rede de apoio e a adoção de medidas protetivas, como a Patrulha Maria da Penha, são estratégias fundamentais para garantir a segurança das vítimas.

7. Conclusão

O Dia Internacional da Mulher deve ser, mais do que uma comemoração, um momento de reflexão sobre os avanços e desafios enfrentados pelas mulheres no Brasil e no mundo. A persistência de altos índices de feminicídio e violência de gênero evidencia a necessidade de um compromisso coletivo para a erradicação dessas práticas.

Somente por meio de mudanças culturais profundas, somadas a políticas públicas eficazes, será possível garantir um futuro em que mulheres e homens caminhem juntos em igualdade e respeito. Enquanto houver esperança e luta, haverá caminho para uma sociedade mais justa e segura para todas e todos.

Referências

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. Disponível em: https://www.forumseguranca.org.br. Acesso em: 6 mar. 2025.

SITES.UEL.BR. Monitor de Feminicídios no Brasil. Disponível em: https://sites.uel.br/lesfem. Acesso em: 6 mar. 2025.

ONU MULHERES BRASIL. História do Dia Internacional da Mulher. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br. Acesso em: 6 mar. 2025.

Pr. Gilberto Silva - Gurupi-TO