"Porque sucedeu que, no
tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para
seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com o Senhor, seu
Deus, como o coração de Davi, seu pai." (1 Reis 11:4)
O nome de Salomão resplandece na
história como um símbolo de sabedoria divina, riqueza imensurável e
grandiosidade. Ele foi o homem que pediu entendimento para governar, e Deus,
generoso, lhe concedeu não apenas sabedoria, mas também prosperidade e honra.
Quem poderia imaginar que aquele que começou reinando com discernimento
terminaria seus dias ofuscado por seus próprios erros?
O jovem rei, ao suceder seu pai Davi, mostrou-se humilde e devoto. Sob sua liderança, Israel viveu um tempo de paz e esplendor. O Templo do Senhor foi erguido em glória inigualável, e Salomão tornou-se conhecido em terras distantes, com reis e rainhas vindo ouvir suas palavras e testemunhar sua magnificência. Contudo, por trás de toda a pompa, algo começava a se deteriorar.
No palácio, as sementes da ruína
foram plantadas. Salomão, movido por ambições políticas, fez alianças
matrimoniais que serviam mais à sua vaidade e ao poder do que à vontade de
Deus. Ele tomou para si setecentas esposas e trezentas concubinas, muitas delas
estrangeiras. Não era apenas uma questão de números, mas de identidade. Essas
alianças trouxeram para dentro de Israel costumes pagãos, idolatria e práticas
espirituais que contaminavam a nação.
As escolhas de Salomão
tornaram-se opressivas. Para sustentar sua opulência e realizar suas ambições
grandiosas, ele escravizou o próprio povo. O trabalho forçado, os impostos
desmedidos e as demandas incessantes para construir palácios, templos e
fortalezas transformaram o rei sábio em um tirano. Aquilo que deveria ser um
reinado de justiça e temor ao Senhor tornou-se uma marca pessoal, um símbolo de
poder que Salomão achou que era seu e não de Deus.
As tribos começaram a sentir o
peso desse governo. O povo, cansado e sobrecarregado, via a distância crescente
entre a promessa de um rei segundo o coração de Deus e a realidade de um
governo que buscava a glória terrena. Foi no palácio de Salomão que a divisão
de Israel começou. A opressão, a idolatria e a tirania criaram as condições
para que, após sua morte, o reino se fragmentasse.
Deus, em sua misericórdia,
advertiu Salomão. Mas o rei não ouviu. Ele tolerou a idolatria e, ao final,
participou dela, rompendo sua aliança com o Senhor. Em resposta, Deus anunciou
que o reino seria tirado de sua linhagem, ainda que parcialmente, como sinal de
fidelidade à promessa feita a Davi.
Salomão, que começou como o rei
ideal, terminou como uma figura trágica. Sua vida ecoa como um alerta a todos
nós. Bênçãos sem obediência levam à ruína. Sabedoria sem submissão a Deus
torna-se arrogância. Poder sem temor ao Senhor gera opressão.
Há, ainda, uma reflexão a mais.
Salomão, o rei sábio, se assemelha a outro personagem bíblico em sua
desobediência: Sansão. Ambos tiveram inícios promissores, recebendo dons
especiais de Deus — Salomão, a sabedoria; Sansão, a força. Contudo, ambos se
desviaram por causa de paixões humanas, desobedecendo às ordens do Senhor. Suas
quedas não apenas marcaram seus destinos, mas impactaram aqueles ao seu redor.
Pr. Gilberto Silva - Gurupi-TO