Um TANTO FAZ para quem tanto fez


 Um TANTO FAZ para quem tanto fez

Hoje, o silêncio do quarto de um asilo qualquer ecoa como um grito sufocado. Ali, entre paredes que já ouviram tantas histórias, repousam homens e mulheres que, um dia, foram tudo para alguém. Agora, são apenas um tanto faz. Para quem eles tanto fizeram, com noites sem dormir, com sonhos adiados, com vidas dedicadas, o tempo, cruel, transformou a retribuição em esquecimento.

Quantos desses idosos, de olhos cansados e gestos lentos, já foram pilares de uma família? Foram os heróis invisíveis de histórias que hoje ninguém quer ouvir. Os filhos, crescidos e absortos em suas próprias vidas, esqueceram-se de olhar para trás. E quem não olha para trás, perde de vista a raiz que o sustenta.

Ah, asilos... Lugares onde a sociedade tenta esconder sua culpa. Chamam de lar o que, para muitos, é apenas um abandono decorado. A rotina ali é monótona, quebrada apenas pelas visitas esporádicas – quando existem – que mais ferem do que confortam. Porque o amor, para ser amor, não pode ser sazonal; precisa ser constante, como foi o cuidado daqueles que agora se sentem descartáveis.

Na velhice, o tempo se torna um espelho cruel. Para quem tanto fez, a ingratidão é um golpe que a alma sente, mas que o corpo, já fragilizado, não consegue defender. Onde estão os abraços, os sorrisos, as palavras doces que deveriam aquecer os dias frios de quem já deu tanto de si?

É preciso, enquanto sociedade, resgatar a humanidade perdida. Valorizar nossos idosos não é um ato de caridade; é um dever moral, um reconhecimento pelo tanto que fizeram. Eles não precisam de luxo; precisam de presença. Precisam ser ouvidos, amados, acolhidos.

Que as palavras “tanto faz” sejam riscadas do dicionário do afeto. E que os olhos que hoje desviam do idoso na cadeira de rodas ou na cama do asilo possam enxergar além: ali está uma vida inteira, repleta de histórias, lutas e conquistas.

E você, que lê estas palavras, lembre-se: um dia, o tempo também baterá à sua porta. Que ele traga consigo a colheita do amor que você semeou. Porque ninguém merece ser apenas um tanto faz para aqueles a quem tanto fez.

P. Gilberto Silva - Gurupi-TO