A Importância da Reforma para
a Igreja e suas 95 teses
O dia 31 de outubro nos remete a
um marco fundamental na história do Cristianismo: o início da Reforma
Protestante. Em 1517, Martinho Lutero, monge e professor de teologia, afixou
suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, contestando práticas
da Igreja Católica que considerava contrárias ao Evangelho, especialmente a
venda de indulgências. Esse ato corajoso abriu o caminho para um renascimento
espiritual que colocou a Palavra de Deus novamente no centro da fé cristã e deu
origem às "Cinco Solas" – princípios que moldaram a teologia
protestante e a vida da Igreja.
Sola Scriptura (Somente a
Escritura)
A primeira das solas, Sola
Scriptura, destaca a Bíblia como a única autoridade infalível para a fé e a
prática cristã. Em uma época em que a Igreja se apoiava na tradição e no
magistério, a Reforma proclamou que somente as Escrituras deveriam guiar a vida
do cristão. Este princípio é sustentado por versículos como 2 Timóteo 3:16-17:
"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de
Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra."
Sola Fide (Somente a Fé)
Sola Fide afirma que a
justificação – ou seja, a aceitação por Deus e a salvação – é alcançada somente
pela fé em Cristo e não por obras humanas. Lutero fundamentou essa verdade em
textos como Efésios 2:8-9: "Pois vocês são salvos pela graça, por
meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que
ninguém se glorie." A fé, portanto, é o meio pelo qual o crente é
declarado justo diante de Deus.
Sola Gratia (Somente a Graça)
Sola Gratia ressalta que a
salvação é um presente de Deus, dado por Sua graça e não merecido por méritos
humanos. A Reforma enfatizou que somos salvos pela pura graça de Deus, um dom
imerecido que exclui qualquer mérito ou esforço pessoal. Romanos 3:23-24
lembra: "Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus,
sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em
Cristo Jesus."
Solus Christus (Somente
Cristo)
Solus Christus proclama que
Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade. Somente por meio de Sua
obra redentora podemos ser reconciliados com Deus, sem a necessidade de
intermediários humanos ou rituais religiosos. Jesus declarou em João 14:6:
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por
mim." A Reforma restaurou essa centralidade de Cristo,
reconhecendo-O como a base da nossa fé e salvação.
Soli Deo Gloria (Somente a
Deus a Glória)
Soli Deo Gloria lembra que toda
glória deve ser dada a Deus, e não aos homens, pela salvação e por tudo o que
acontece no universo. Esse princípio, embasado em Romanos 11:36:
"Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para
sempre!", exalta Deus como o soberano absoluto e supremo em todas as coisas.
A Relevância contemporânea das
95 teses
As 95 teses de Lutero, que
denunciaram abusos e promoveram uma chamada ao arrependimento, são um lembrete
poderoso de que a Igreja deve sempre estar alinhada com o Evangelho de Cristo e
sua pureza. Esse chamado continua hoje, exortando-nos a uma fé ancorada na
Bíblia e a uma vida de devoção a Deus, sem interferência de tradições humanas
ou práticas distorcidas. A Reforma não foi apenas um evento histórico; foi o
início de uma renovação espiritual contínua, que reforça a centralidade de
Cristo e a importância da fé e da graça em nossa relação com Deus.
Mas a pergunta que não quer
calar é a seguinte: estamos precisando de outra reforma protestante?
Essa é uma pergunta que provoca
reflexões profundas. Mais de cinco séculos após Martinho Lutero ter afixado as
95 teses em Wittenberg, muitos cristãos percebem sinais de que a Igreja atual
necessita de uma nova reforma. Embora os princípios da Reforma – as "Cinco
Solas" – continuem relevantes e essenciais, a prática da fé em muitos
contextos cristãos mostra desvios semelhantes àqueles confrontados pelos reformadores.
Por que precisaríamos de uma nova
Reforma?
Hoje, a Bíblia continua sendo
central para a fé cristã, mas em algumas tradições e comunidades, as Escrituras
são frequentemente interpretadas à luz de modismos, tradições ou visões de
líderes. Isso coloca em risco a autoridade exclusiva da Palavra de Deus. Uma
nova reforma poderia enfatizar a leitura e interpretação contextual e
responsável das Escrituras, além de incentivar que os fiéis conheçam e estudem
a Bíblia pessoalmente. Redescoberta das Escrituras (Sola Scriptura)
Em muitos contextos, o
entendimento de salvação e fé tem se diluído, muitas vezes reduzido a bênçãos
materiais ou visto como uma “troca” com Deus. É urgente reafirmar que a
salvação é pela graça, por meio da fé, e não condicionada ao que possamos
fazer. Uma reforma neste sentido chamaria a Igreja a um verdadeiro
arrependimento e uma prática de fé que honre a obra redentora de Cristo, sem
barganhas e sem misturas. Fé e Obras (Sola Fide e Sola Gratia)
O papel central de Cristo tem
sido, em alguns lugares, diluído por figuras carismáticas ou por ideologias que
acabam tomando o lugar da simplicidade e da centralidade de Jesus. Uma nova
reforma fortaleceria o cristocentrismo, onde a igreja e cada cristão vivessem
refletindo Cristo, sem mediadores, além de Jesus, na caminhada com Deus. Cristocentrismo
(Solus Christus)
Muitos observam hoje o
crescimento de movimentos focados no homem, com mensagens voltadas à
autorrealização, sucesso e poder pessoal. Isso se distancia da visão reformada
de que toda glória pertence a Deus e que a vida cristã é um chamado ao serviço
humilde. Uma reforma orientada à glória de Deus traria o foco novamente para
uma vida de adoração e submissão ao Senhor. Glória a Deus (Soli Deo Gloria)
Como seria uma nova Reforma?
Uma nova reforma, a meu ver, não
significaria uma ruptura ou divisão, mas uma renovação espiritual. Poderia
envolver um chamado ao retorno às práticas e ensinamentos centrados nas
Escrituras, ao arrependimento e a uma vida de fé autêntica. Também destacaria a
necessidade de uma Igreja que atue como agente de transformação na sociedade,
buscando justiça, servindo ao próximo e refletindo o caráter de Cristo.
O Espírito da Reforma hoje
A verdadeira Reforma é mais que
um evento histórico; é um movimento contínuo que renova a Igreja e a chama ao
arrependimento e à fidelidade ao Evangelho. Como Lutero e outros reformadores,
podemos orar e trabalhar por uma Igreja que busque continuamente a presença de
Deus e um relacionamento pessoal, baseado em Sua Palavra. Neste sentido, talvez
estejamos realmente precisando de outra reforma: uma renovação que nos leve a
viver o Evangelho de maneira plena, compassiva e verdadeira, para a glória de
Deus.
Que, neste Dia da Reforma
Protestante, possamos refletir sobre a profundidade desses princípios e nos
comprometer a viver uma vida cristã fiel, fundamentada nas Escrituras e para a
glória de Deus.
Pr. Gilberto Correia – Gurupi-TO