Apontar é mais fácil do que refletir

 


Apontar é mais fácil do que refletir

Um homem sábio disse uma vez: “somos bons advogados dos nossos próprios erros, mas excelentes juízes dos erros dos outros”. Ainda mais em tempos de intolerância e polarização.

A frase citada traz à tona uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a forma como percebemos e avaliamos o comportamento alheio, em comparação ao nosso próprio. Em tempos de intolerância e polarização, essa sabedoria se torna ainda mais relevante.

A primeira parte da frase, "somos bons advogados dos nossos próprios erros", revela nossa tendência em justificar nossas ações. Quando erramos, muitas vezes encontramos uma série de explicações e desculpas, que nos fazem melhorar nossos sentimentos sobre nossas decisões. Essa autojustificação é uma defesa psicológica, que nos permite evitar a culpa e o desconforto. Por outro lado, quando observamos os erros dos outros, nossa tendência é julgar rapidamente. "Excelentes juízes dos erros dos outros" aponta para a facilidade com que criticamos, muitas vezes sem compreender o contexto ou as dificuldades enfrentadas por aqueles que estão errando.

Nos dias atuais, a intolerância e a polarização estão em alta, especialmente em contextos políticos, religiosos e sociais. Essas dinâmicas fazem com que as pessoas se posicionem rigidamente em lados opostos, criando um ambiente onde o diálogo e a empatia são frequentemente substituídos por ataques e deslegitimações. A crítica se torna mais feroz e menos compreensiva, enquanto a defesa de nossas próprias crenças é alimentada por uma retórica que busca justificar nossas escolhas e ignorar nossas falhas.

Essa situação nos chama a uma reflexão sobre a importância da empatia. Em vez de nos tornarmos juízes implacáveis, podemos aprender a compreender as motivações, medos e desafios dos outros. Isso não significa que devemos ignorar os erros, mas sim abordá-los com compaixão e um desejo de entender. A empatia nos permite construir pontes, em vez de muros, promovendo um ambiente mais saudável e colaborativo.

Além disso, é vital que cultivemos uma prática de autorreflexão crítica. Em vez de apenas justificar nossas próprias falhas, podemos questionar nossas ações e buscar o crescimento pessoal. Essa abordagem não apenas nos ajuda a evoluir como indivíduos, mas também nos torna mais tolerantes e compreensivos em relação às falhas dos outros.

Em tempos de polarização e intolerância, é fundamental lembrar que todos somos humanos e suscetíveis a erros. Promover um diálogo aberto e respeitoso, baseado na empatia e na compreensão mútua, é um passo essencial para superar as divisões e construir uma sociedade mais harmoniosa. Em vez de sermos juízes implacáveis, que possamos ser aliados na busca por um entendimento mais profundo e uma convivência pacífica.

Pr. Gilberto Correia - Gurupi-TO


Limão ou Goiaba? A Verdade por trás da aparência

 


Limão ou Goiaba? A Verdade por trás da aparência

"Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." - 1 João 4:1

Na caminhada cristã, muitas vezes somos atraídos pela aparência das pessoas e esquecemos de olhar para o conteúdo que está por dentro. Uma goiaba pode ser bonita e doce por fora, mas trazer um verme oculto, que se alimenta do que há de bom nela, até torná-la inútil e venenosa. Do mesmo modo, algumas pessoas que parecem agradáveis e carismáticas podem carregar práticas e ensinamentos que afastam da verdade bíblica, corrompendo corações e desviando da fé autêntica.

O limão, em contrapartida, é azedo à primeira vista, difícil de ser aceito por quem busca apenas o sabor agradável. Contudo, ele possui propriedades curativas e purificadoras. Assim também é o crente sincero, cuja palavra e postura, embora possam parecer duras, são fundamentadas na verdade e na retidão. Nem sempre é popular ou querido, mas seu caráter puro e íntegro traz saúde espiritual.

Ao longo da vida, seremos tentados a escolher o "doce fácil", que nem sempre nutre, e a evitar o "azedo verdadeiro", que, embora difícil de aceitar, transforma e fortalece. O apóstolo João nos alerta a "provar os espíritos" — avaliar, com discernimento, se aqueles que nos cercam, especialmente no meio cristão, realmente refletem a luz de Cristo ou se trazem corrupção em seu interior.

Oração: Senhor, concede-nos discernimento para escolher o que é verdadeiramente bom para a nossa alma. Ajuda-nos a rejeitar as aparências enganosas e abraçar aquilo que, mesmo sendo difícil, nos leva para mais perto de Ti. Que possamos ser limpos e íntegros na presença do Senhor, como servos fiéis que honram a Tua palavra em toda verdade. Em nome de Jesus, amém.

Na Graça do Pai. Bom dia. Shalom. A Paz do Senhor - Que nesta quinta-feira, tenhamos sabedoria e discernimento para buscar o Senhor, o melhor para nossas vidas. E que sejamos orientados pelo Espirito Santo a vivermos cercados de homens e mulheres tementes à Palavra, de coração puro e espirito inabalável.

Pr. Gilberto Correia – Gurupi-TO

A Importância da Reforma para a Igreja e suas 95 teses

 A Importância da Reforma para a Igreja e suas 95 teses

O dia 31 de outubro nos remete a um marco fundamental na história do Cristianismo: o início da Reforma Protestante. Em 1517, Martinho Lutero, monge e professor de teologia, afixou suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, contestando práticas da Igreja Católica que considerava contrárias ao Evangelho, especialmente a venda de indulgências. Esse ato corajoso abriu o caminho para um renascimento espiritual que colocou a Palavra de Deus novamente no centro da fé cristã e deu origem às "Cinco Solas" – princípios que moldaram a teologia protestante e a vida da Igreja.

Sola Scriptura (Somente a Escritura)

A primeira das solas, Sola Scriptura, destaca a Bíblia como a única autoridade infalível para a fé e a prática cristã. Em uma época em que a Igreja se apoiava na tradição e no magistério, a Reforma proclamou que somente as Escrituras deveriam guiar a vida do cristão. Este princípio é sustentado por versículos como 2 Timóteo 3:16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra."

Sola Fide (Somente a Fé)

Sola Fide afirma que a justificação – ou seja, a aceitação por Deus e a salvação – é alcançada somente pela fé em Cristo e não por obras humanas. Lutero fundamentou essa verdade em textos como Efésios 2:8-9: "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie." A fé, portanto, é o meio pelo qual o crente é declarado justo diante de Deus.

Sola Gratia (Somente a Graça)

Sola Gratia ressalta que a salvação é um presente de Deus, dado por Sua graça e não merecido por méritos humanos. A Reforma enfatizou que somos salvos pela pura graça de Deus, um dom imerecido que exclui qualquer mérito ou esforço pessoal. Romanos 3:23-24 lembra: "Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus."

Solus Christus (Somente Cristo)

Solus Christus proclama que Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade. Somente por meio de Sua obra redentora podemos ser reconciliados com Deus, sem a necessidade de intermediários humanos ou rituais religiosos. Jesus declarou em João 14:6: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim." A Reforma restaurou essa centralidade de Cristo, reconhecendo-O como a base da nossa fé e salvação.

Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória)

Soli Deo Gloria lembra que toda glória deve ser dada a Deus, e não aos homens, pela salvação e por tudo o que acontece no universo. Esse princípio, embasado em Romanos 11:36: "Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!", exalta Deus como o soberano absoluto e supremo em todas as coisas.


A Relevância contemporânea das 95 teses

As 95 teses de Lutero, que denunciaram abusos e promoveram uma chamada ao arrependimento, são um lembrete poderoso de que a Igreja deve sempre estar alinhada com o Evangelho de Cristo e sua pureza. Esse chamado continua hoje, exortando-nos a uma fé ancorada na Bíblia e a uma vida de devoção a Deus, sem interferência de tradições humanas ou práticas distorcidas. A Reforma não foi apenas um evento histórico; foi o início de uma renovação espiritual contínua, que reforça a centralidade de Cristo e a importância da fé e da graça em nossa relação com Deus.

Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: estamos precisando de outra reforma protestante?

Essa é uma pergunta que provoca reflexões profundas. Mais de cinco séculos após Martinho Lutero ter afixado as 95 teses em Wittenberg, muitos cristãos percebem sinais de que a Igreja atual necessita de uma nova reforma. Embora os princípios da Reforma – as "Cinco Solas" – continuem relevantes e essenciais, a prática da fé em muitos contextos cristãos mostra desvios semelhantes àqueles confrontados pelos reformadores.

Por que precisaríamos de uma nova Reforma?

Hoje, a Bíblia continua sendo central para a fé cristã, mas em algumas tradições e comunidades, as Escrituras são frequentemente interpretadas à luz de modismos, tradições ou visões de líderes. Isso coloca em risco a autoridade exclusiva da Palavra de Deus. Uma nova reforma poderia enfatizar a leitura e interpretação contextual e responsável das Escrituras, além de incentivar que os fiéis conheçam e estudem a Bíblia pessoalmente. Redescoberta das Escrituras (Sola Scriptura)

Em muitos contextos, o entendimento de salvação e fé tem se diluído, muitas vezes reduzido a bênçãos materiais ou visto como uma “troca” com Deus. É urgente reafirmar que a salvação é pela graça, por meio da fé, e não condicionada ao que possamos fazer. Uma reforma neste sentido chamaria a Igreja a um verdadeiro arrependimento e uma prática de fé que honre a obra redentora de Cristo, sem barganhas e sem misturas. Fé e Obras (Sola Fide e Sola Gratia)

O papel central de Cristo tem sido, em alguns lugares, diluído por figuras carismáticas ou por ideologias que acabam tomando o lugar da simplicidade e da centralidade de Jesus. Uma nova reforma fortaleceria o cristocentrismo, onde a igreja e cada cristão vivessem refletindo Cristo, sem mediadores, além de Jesus, na caminhada com Deus. Cristocentrismo (Solus Christus)

Muitos observam hoje o crescimento de movimentos focados no homem, com mensagens voltadas à autorrealização, sucesso e poder pessoal. Isso se distancia da visão reformada de que toda glória pertence a Deus e que a vida cristã é um chamado ao serviço humilde. Uma reforma orientada à glória de Deus traria o foco novamente para uma vida de adoração e submissão ao Senhor. Glória a Deus (Soli Deo Gloria)

Como seria uma nova Reforma?

Uma nova reforma, a meu ver, não significaria uma ruptura ou divisão, mas uma renovação espiritual. Poderia envolver um chamado ao retorno às práticas e ensinamentos centrados nas Escrituras, ao arrependimento e a uma vida de fé autêntica. Também destacaria a necessidade de uma Igreja que atue como agente de transformação na sociedade, buscando justiça, servindo ao próximo e refletindo o caráter de Cristo.

O Espírito da Reforma hoje

A verdadeira Reforma é mais que um evento histórico; é um movimento contínuo que renova a Igreja e a chama ao arrependimento e à fidelidade ao Evangelho. Como Lutero e outros reformadores, podemos orar e trabalhar por uma Igreja que busque continuamente a presença de Deus e um relacionamento pessoal, baseado em Sua Palavra. Neste sentido, talvez estejamos realmente precisando de outra reforma: uma renovação que nos leve a viver o Evangelho de maneira plena, compassiva e verdadeira, para a glória de Deus.

Que, neste Dia da Reforma Protestante, possamos refletir sobre a profundidade desses princípios e nos comprometer a viver uma vida cristã fiel, fundamentada nas Escrituras e para a glória de Deus.

Pr. Gilberto Correia – Gurupi-TO